Café & Crônicas

Obrigada.
Obrigada por todas as vezes que você me feriu.
Você tirou de mim, uma força que eu escondia. 
O por que de eu ainda te amar? Eu ainda não descobri.
Mesmo depois de saber que você anda de mãos dadas com outro alguém.
Talvez você quisesse um conto de fadas, e romantismo nunca foi meu forte.
Por que ainda conversamos, depois de todos esses anos?
Você sabe que eu nunca deixei de te amar. 
Mas hoje, olhando para trás pela estreita lente da retrospectiva, eu não voltaria atrás. 
Não depois de tanto tempo, depois de fixar pedaço por pedaço do que me restou para chamar de coração. 
Escrevo isso, com cada gota de sangue escarlate que escorreu por cada pedaço do meu ser, enquanto eu unia as ruínas de uma alma dilacerada. 
Analisando com atenção, talvez você pudesse ser capaz de notar as partes finas do papel, onde cada lágrima encontrou morada. 
Desculpe por deixar ser tarde demais.
Espero que um dia, isso possa ser apenas uma pagina sombria na explosão de cores da minha vida.
Mas até lá, obrigada.
Obrigada por ter levado consigo minhas cores.
Pois com o cinza, eu aprendi a amar a escuridão.

Hoje, me sinto com o mundo em mãos.

Mamãe costumava ler meus textos quando os mesmos não passavam de duas ou três palavras as quais eu conhecia, e desenhos perdidos pela página branca.
Lembro de me orgulhar de cada rabisco preso naquele papel, mesmo que eles não significassem nada além de um lápis colorido.
Ela costumava elogiar e me apoiar, mesmo que tudo aquilo parecesse abstrato e confuso, aparentava fazer sentido perante seus olhos de mãe.
E eu sempre acreditei.
Palavras sempre foram mais que palavras para mim. Elas sempre foram minhas amigas. Meu alento. Meu refúgio.
Escrever é muito mais que deslizar a caneta sobre o papel, é me encontrar em devaneios.
Existem pessoas que são apaixonadas por futebol, outras por leitura, outras por algo ou alguém.
E minha paixão sempre foi escrever.
Um orgulho que carreguei comigo desde os rabiscos as crônicas lidas em público.
Saber me expressar através de palavras sempre me fez bem. Me tornou alguém melhor
Escrever é para mim, uma forma de magia, saber curar e machucar quando nenhuma palavra sai de sua boca, e sim de sua mente é mágico, abstrato, majestoso.
Unir palavras liberta minha alma.
E é minha alma que eu coloco nelas.
Cada virgula, cada letra, possui um pedaço de mim.
Como sementes plantadas sobre a terra.
Como o amanhecer no verão.
Minha paixão vai além de fumaça carregada pelo vento.
É algo guardado nas estrelas.
Como caixas de segredos depositadas em nossos corações.

Estou caminhando sobre os cacos de vidro de meu fracasso, o sangue escarlate escorre por minha derme manchando cada pedaço de esperança. Não há como impedir. Apenas esperar que a última gota seque sobre a planta de meus pés. A roda gigante de promessas continua a girar, perante meus gritos de desespero. E ela não irá parar. Minhas mãos deslizam pelas paredes frias da morte e não há ninguém para segurá-las, já é tarde demais. Minha mente sabe o que vem a seguir. Lágrimas, sofrimento, gritos, nada fará o que não foi feito. A garota estranha do bairro partiu. E ninguém estava lá para segurar os vidros de remédio que prometiam fazer com que tudo parasse. Ninguém se importava com as cicatrizes em seus pulsos causadas pelas laminas frias que foram seus ombros amigos por anos. Todas aquelas regras, expectativas que ela simplesmente não conseguia suprir. A garota estranha do bairro não viu o sol nascente naquela manhã, deixou sua vida ser tomada por aquelas que nunca estiveram lá. Ninguém nunca esteve lá.